Em tempos de mobilização pela economia de água, publicamos um texto de Celso Ming que traz um pouco do contexto que gerou a situação atual.
O texto foi publicado no jornal “O Estado de São Paulo” no dia 15 de agosto.
“Não dá mais para encarar a crise hídrica como fato isolado e conjuntural, como mero ponto fora da curva. É preciso tratá-la como problema estrutural. O sistema elétrico do Brasil tende a não mais dar conta do recado.
E o mesmo acontece com os sistemas de água tratada.
Esta crise não pode ser vista como apenas a pior dos últimos 90 anos. Ela tende a repetir-se, com intensidade que não se pode precisar agora. Tivemos situações desse tipo também em 2001, em 2007 e em 2014. A de agora pega o País mais arrumado do ponto de vista da oferta de energia elétrica. O sistema está mais integrado e em 20 anos foi possível dotar a economia com reservas de geração térmica.
Esta crise acontece depois de sete anos de crescimento medíocre da economia, em que o consumo permaneceu contido e, no entanto, desembocou na situação atual. O período mais seco pode estar apenas começando ou pode repetir-se mais frequentemente.
Não basta tratar a escassez com apelos à economia dentro de casa, com racionamento e com apelos a práticas mais racionais de uso. É preciso garantir mais capacidade de geração de energia elétrica. Como não há recursos públicos para esse investimento – tanto não há que foi preciso privatizar a Eletrobras –, a saída é incentivar o investimento privado.
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Por isso, a política energética brasileira precisa acelerar os incentivos tanto em geração de energia limpa (solar, eólica e biomassa) como, também, em energia termoelétrica por usinas mais eficientes.
O risco não é apenas de crise de oferta de energia. É também de escassez de água. Como noticiou o Estadão da última sexta-feira, o abastecimento de água vem prejudicando os municípios das Bacias do Rio Grande, Rio Paranaguá, Paranapanema e Paraguai, num momento de retomada da economia, a ponto de já estarem sendo decretados rodízios e racionamento do consumo.
O uso de água doce disponível vem crescendo. Há mais residências no Brasil servidas com rede de água encanada, o que é fato auspicioso, mas que aumenta o consumo.
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E é preciso, sim, atacar o desperdício. As perdas de energia elétrica e de água não são apenas técnicas. Muitos equipamentos ultrapassados e muito roubo prejudicam a oferta adequada e o bolso do consumidor. Mais de 39% da água tratada no Brasil escorre para fora do sistema.
Enfim, não bastam os apelos de que “sabendo usar, não vai faltar”.
Celso Ming – O Estado de São Paulo – 15 de Agosto de 2021.